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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Cidade da esperança: jogo contra o Fla é alento para moradores de Murici

Por Eduardo Peixoto e Richard Souza
Direto de Murici, AL

Alagoanos tentam refazer a vida após enchente e estão ansiosos para ver o time da cidade enfrentar o Rubro-Negro, nesta quarta, pela Copa do Brasil


Quitéria (à dir.) abraça a filha Vitória: rubro-negras
(Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)

As marcas deixadas pela chuva ainda estão por toda parte. E machucam. Quem sofreu com a enchente tenta enxergar em cada dia um recomeço. Pouco a pouco, tijolo por tijolo, pessoas simples batalham para retomar a vida.

Murici, a 50 km da capital Maceió, em Alagoas, é movida pela esperança. A cidade de 25 mil habitantes sofreu com uma enchente em junho do ano passado. Registrou dois mortos e mais de dois mil desabrigados. À espera da construção de casas populares, muitos deles ainda vivem em barracas num acampamento. A estrutura é precária. A água vem de um caminhão-pipa, banheiros foram improvisados, há lixo espalhado e é impossível suportar o calor sob as tendas. Para amenizar a situação, estão sendo construídos novos banheiros e uma lavanderia coletiva.

- Temos passado por dias muito difíceis.

O desabafo é da dona de casa Quitéria Maria da Silva. Sabe-se lá como, mas ela ainda consegue sorrir. É o antídoto para tanto sofrimento.

Crianças que vivem no acampamento das vítimas da enchente (Foto: Richard Souza / Globoesporte.com)

- Vivo aqui com a minha filha. O nome dela é Vitória, de cinco anos. Tenho outros dois filhos, mas não vivem comigo. Muitas mães têm abandonado seus filhos por conta da situação difícil. Não temos segurança no acampamento.

O esporte tem feito parte da recuperação de Murici e de certa forma serve de alento. Nesta quarta-feira, o clube que carrega o nome da cidade dará o passo mais importante de sua história. O time vai enfrentar o Flamengo, de Ronaldinho Gaúcho, pela primeira fase da Copa do Brasil. O jogo tem mexido com a população e será em Maceió, às 22h de Brasília (21h no horário local). Com capacidade para apenas três mil torcedores, o estádio José Gomes da Costa não tem como receber o confronto, que vai ser disputado no Rei Pelé. Muitos gostariam de ir à capital, mas apenas cerca de 1.500 moradores terão tal privilégio.

- Seria um sonho ver o Flamengo jogar, meu e da minha filha, mas com a minha renda não dá. Recebo R$ 112 por mês. Vai ter de ficar para a próxima. Sou de Murici, mas faz tempo que sou flamenguista e vou torcer muito para que o Flamengo vença. Acho muito bom que um jogo desses, com tantos jogadores importantes, seja no interior (risos) – disse Quitéria, com a toalha do clube da Gávea em mãos.

O servente Cícero Nascimento gostaria muito de poder ver o time do Flamengo de perto ao lado do filho Carlos Eduardo, de 11 anos. Em dias difíceis, também terá de adiar o sonho. Cícero não teve a casa afetada pela chuva, mas tem prestado assistência aos parentes que perderam tudo.

- Fala-se muito neste jogo, do Ronaldinho Gaúcho. Conheço algumas pessoas que vão a Maceió. Queria assistir também, mas estou sem condições. Todos da minha família estão precisando de ajuda e estão na minha casa. Minha mãe, de 67 anos, também foi vítima dessa tragédia.

Força ao Murici


O Murici também sofreu. Com a cidade em estado de calamidade pública, o clube abriu mão da participação na Série D. Durante a enchente, a sede do clube ruiu. O troféu de campeão alagoano de 2010, sua maior glória, sumiu e reapareceu um mês depois, a um quilômetro e meio de distância, sujo e quebrado. A direção não quer consertá-lo para que fique como símbolo de resistência da cidade.

Os 17.600 ingressos colocados à venda estão esgotados. O estádio estará tomado de rubro-negros, mas o clube alagoano não será abandonado. Alguns moradores da cidade garantem que não faltará torcida.

- Estou confiante. Acho que dá para levar a decisão para o segundo jogo, no Rio. O Murici vai dar trabalho. Tenho acompanhado o Campeonato Carioca e não acho que o nosso time seja pior que Resende e Boavista. É organizado – afirmou o advogado Diogo Novais.

A admiração dos alagoanos pelo Flamengo é quase sem tamanho, mas há quem ainda honre as raízes.

- Sou rubro-negro, mas vou torcer pela cidade e pelo Murici. Há 12 anos que acompanho o clube. Que o Murici consiga levar o segundo jogo para o Rio de Janeiro, aí lá vou torcer para o Flamengo. Está bem assim? - brincou o agente administrativo Eudes dos Santos.

O GLOBOESPORTE.COM acompanha a partida entre Murici e Flamengo em Tempo Real, com vídeos. Caso consiga vencer por dois ou mais gols de diferença, o Rubro-Negro vai eliminar o jogo da volta, marcado para 24 de fevereiro, no Engenhão.

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